Desde a chegada do grupo, no dia 28 de setembro, inúmeros indígenas adoeceram. Criança de 1 ano e 7 meses morreu no último dia 22. O município vai ter que apresentar um plano de ação até o dia 12 de novembro.
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) confirmou nesta quarta-feira (27) que o Comitê de Vigilância de Transmissão Vertical e da Mortalidade Fetal e Infantil vai investigar a morte de uma criança indígena de 1 ano e 7 meses por Covid-19, no Hospital Infantil João Paulo II, em Belo Horizonte.
Segundo o promotor que coordena o Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos do Ministério Público de Minas Gerais, Francisco Ângelo Silva Assis, houve uma reunião com o Tribunal de Justiça, a PBH e representantes do Alto-comissariado das Nações Unidas para Refugiados e o município vai ter que apresentar um plano de ação até o dia 12 de novembro e falou sobre uma visitação no local.
“Uma visita nesse espaço pra compreender o espaço ainda mais, o que foi feito e qual a carência. As dificuldades ali são dificuldades que perpassam pela cultura desses povos, por exemplo, não ficam entre paredes, a forma de preparo de alimentação. […] O município vai nos apresentar no dia 12 o plano emergencial, pelo menos o esboço, os alinhamentos que estão sendo feitos”.
A reunião foi realizada depois que a Defensoria Pública de Minas Gerais (DPMG) denunciou que a situação dos refugiados indígenas fere princípios da constituição de igualdade e dignidade humana, e também a lei federal e tratados internacionais sobre políticas para emigrantes.
A defensora pública Rachel Aparecida de Aguiar esteve no abrigo e afirmou no relatório de inspeção que o local não é formatado para acolhimento de famílias e que os indígenas, em sua maioria mulheres e crianças, estão amontoados em local insalubre, separados apenas por uma tela de proteção dos demais abrigados.
Ela também relatou que, desde a chegada do grupo, no dia 28 de setembro, inúmeros indígenas adoeceram de Covid-19, e que no dia 22 de outubro, uma bebê de 1 ano e 7 meses morreu por causa da doença.
A DPMG fotografou o local onde o grupo está abrigado: há colchões espalhados pelo piso e também empilhados, malas e brinquedo no chão. Em um pátio externo há roupas penduradas em uma cerca.
“Essa área externa é composta por um pátio descoberto, de cimento. Uma outra área desse pátio, que é de terra e onde tem árvores, onde tem uma cozinha muito precária, com fogão, mas não tem equipamentos de cozinha. Então, nessa condição que eles estão, eles estão em condições desumanas”‘, pontua Rachel.
A PBH disse que os indígenas venezuelanos foram trazidos de forma emergencial e que, desde então, equipes da Secretaria de Assistência Social começaram a visitar imóveis do município e até do governo do estado para avaliar as condições técnicas de transferência do grupo. Ainda segundo a prefeitura, a mudança já está sendo negociada com os refugiados.
“O município atuou desde o primeiro momento, tanto do ponto de vista social e de saúde. Todo o processo de atendimento foi realizado. O grupo, devido ao contexto migratório que tem, algumas situações de saúde, a gente tem atuado conjuntamente com eles”, disse a secretária Maíra Colares.
Para o coordenador do Programa Polos de Cidadania da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), André Luiz Freitas Dias, além da transferência urgente, é preciso apurar a responsabilidade do município pela morte da criança.
“Primeiro, as condições de saúde que ocasionaram a trágica interrupção de uma vida sob sua responsabilidade. Segundo, como se dará a investigação do óbito, né, por meio, provavelmente do Comitê de Prevenção de Óbitos Materno, Fetal, Infantil da Secretaria Municipal de Saúde. Terceiro, qual é atenção oferecida à criança, à mãe e família durante todo o processo de cuidado no município, da UPA, passando pela Santa Casa até chegar ao Hospital Infantil João Paulo II”, fala Dias.
Extraído de: G1.
Escrito por ERNANE FIUZA, TV Globo — Belo Horizonte.